Na ensolarada tarde de quinta-feira, deixamos o porto de Salvador para iniciar a verdadeira travessia. Só voltaríamos a pisar a terra na quinta-feira seguinte, em Las Palmas, já do outro lado do Atlântico.
Durante um bom tempo, o Armonia navegou paralelo à costa brasileira, o que nos deu um tempo a mais de uso do sinal de internet vindo da terra firme.
Anoiteceu, nos afastamos da costa, e adeus comunicação! Nem internet, nem TV. Se quiséssemos saber quantas vezes mais Lula tomaria-e-não-tomaria posse como ministro, só nos restava adquirir o caríssimo pacote de internet do navio ou comprar a cópia impressa de algum jornal brasileiro.
Não fizemos nem um nem outro. Rose e Vilma compraram o jornal do dia da partida e do domingo seguinte e nos emprestaram. Estranho voltar a ler notícias impressas!
O informativo diário do navio previa que por volta de 22h avistaríamos as luzes de Recife. Saímos pra ver. Esperamos um tempo com os celulares a postos para qualquer sinal de internet. Nada! Nem luzes, nem sinal.
O primeiro dia amanheceu ensolarado. Ao longe ainda avistávamos uma faixa de terra, que logo desapareceu.
Como os primeiros dias da viagem tinham sido de esbórnia total, decidimos cuidar da alimentação e do corpo nesses dias no mar.
Depois de um café da manhã sem excessos, fomos conhecer – e usar – a academia do navio. O resto do dia, passamos lendo e admirando o mar azul com uma ou outra gaivota voando perto do navio.
Ah, claro que teve também cassino e coquetel, que férias são férias, né?
Do nosso posto de observação, fotografei o pôr do sol desse dia:
O sábado foi de aventuras. Esperadas e inesperadas.
Durante a noite transporíamos um fuso horário e nossos relógios deveriam ser adiantados. Perderíamos, assim, uma hora.
Segundo informações emitidas pela cabine de comando, por volta das 5h passaríamos a duas milhas náuticas de Fernando de Noronha. Opa! Pertinho, coisa de nem 4km! Acionamos o despertador para não perder o espetáculo.
Madrugada, e nós a postos com câmeras e celulares. Afinal, proximidade da terra significava também a possibilidade de sinal.
Alguns minutos depois, navegávamos dentro do arquipélago e a ilha principal estava bem ali. O Morro do Pico se destacava na paisagem e a estrela D'alva brilhava no céu.
Sinal de internet... quase nada! Ana conseguiu enviar uma mensagem de parabéns para o irmão aniversariante e eu recebi notificações do Facebook e Instagram. Além disso, entraram as últimas conversas do WhatsApp.
O dia foi clareando e o contorno da ilha ficou mais nítido.
A leste, o céu foi se tornando amarelado e brilhante. Era o nascer do sol, ali diante de nós!
Encantadas com o espetáculo da madrugada, voltamos para a cabine, para a cama, para o sono.
Entre um cochilo e outro, fomos surpreendidas por balanço inusitado e muita trepidação nos motores do navio. O que estaria acontecendo? Não tivemos curiosidade suficiente pra levantar e investigar.
Quando, afinal, nos levantamos, por volta de 9h30 no novo horário, abrimos a janela e topamos com o perfil de Fernando de Noronha – a ilha – ali pertinho de nós.
Como assim?
Soubemos, em seguida, que houve uma emergência a bordo. Alguém passou mal e teve de ser deixado às pressas na cidade. O navio tinha voltado e despachado por barco um casal que ministrava aulas de trabalhos manuais a bordo.
Toda a manobra durou mais de duas horas, e quem já estava acordado, como a Vilma, acompanhou os fatos e teve sinal de internet suficiente para se inteirar das últimas notícias da política brasileira.
O resto do dia seguiu tranquilo. Navegando por águas azuis, cruzamos finalmente a linha do Equador.
Aí os comprovantes, pra ninguém duvidar do feito:
O primeiro dia no hemisfério norte veio com uma certa mudança de clima. O céu alternou entre o cinza e o azul. Choveu. Fez sol. A temperatura caiu uns três ou quatro graus. E o vento soprou o dia todo.
Nesse dia vencemos também outro fuso horário e nossos relógios caminharam mais uma hora adiante.
Com a temperatura em queda, o mar sempre agitado e os ventos cada vez mais fortes, chegamos ao arquipélago de Cabo Verde, na manhã da terça-feira.
Pela primeira vez usamos agasalhos para sair ao convés e acompanhar a passagem pela Ilha do Maio, que surgiu entre as brumas.
Nossos olhos e nossas lentes esmiuçaram, na medida do possível, todo o território visível da ilha, buscando cidades e um farol marítimo ao qual se referia o noticiário do navio. Mas nada do Farol de Punta dos Flamengos...
Havia também a possiblidade de ver ao longe a Ilha de Santiago, mas nossa vista não chegou até lá.
O dia seguiu frio e cinzento e, embora o mapa localizasse nosso navio entre as ilhas do arquipélago durante boa parte do tempo, não vimos mais nada de terra.
Seguimos navegando no rumo nordeste para alcançar mais um fuso horário e adiantar mais uma vez nossos relógios. Total: três horas!
É tedioso ficar tantos dias dentro de um navio sem contato com o mundo exterior?
Depende de cada viajante.
A equipe de lazer prepara mil e uma atividades. Tem palestras, jogos, festas, aulas de língua, aulas de dança, shows, bailes, gincanas, aulas de artes manuais, ensaio de coral.
Há também piscina, academia, pista de caminhada, lojas – com eternas “liquidações” – e ainda bares, restaurantes e cassino.
Para saber das notícias da sua terrinha, o viajante pode comprar o jornal, que é impresso no próprio navio, ou usar o wi fi pago para acessar a internet.
É só escolher! Garanto que não sobra tempo.
Ana e eu não ficamos nem um tantinho entediadas e olha que não fomos à piscina nenhuma vez, não participamos de jogos nem de aulas, vimos apenas uma pequena parte de um show e ficamos longe da internet todo o tempo.
O que nós fizemos nesses dias de travessia:
🔸Muita leitura (e ainda faltam muitos links salvos no Pocket...)
🔸Algumas caminhadas, quando o tempo permitia
🔸Uma aula de alongamento (achamos fraca e não voltamos)
🔸Uma sessão de esteira na academia
🔸Comemos e bebemos mais do que de costume
🔸Jogamos diariamente nas máquinas do cassino
🔸Deitamos cedo e acordamos tarde
🔸Assistimos a três palestras sobre nossos próximos destinos
🔸Apreciamos a paisagem diurna e noturna (tivemos até lua cheia!)
🔸E balançamos, balançamos, balançamos... nunca tínhamos pegado tanta turbulência em nossa curta carreira de navegantes! (Mas nada que uma dose diária de Meclin não resolvesse. 😜)
É verdade que, à medida que a temperatura foi caindo e as atividades ao ar livre deixaram de ser tão valorizadas, os espaços internos ficaram muito mais concorridos e se tornou mais difícil encontrar um cantinho sossegado para ler. Mas sempre conseguimos! É só ter paciência e não estressar. Afinal todos estamos aqui para nos divertir.
E, por fim, chegou o momento esperado!
Já podemos anunciar: terra à vista!
Deve ser emocionante pegar um navio seguir por dias, meses sem fim...
ResponderExcluirSe pudesses ficaria alguns anos, rs.
Grande viagem!
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
Delícia,sim, Bia.
ExcluirMas acho que por anos enjoaria. ;-)
Bravas marinheiras, transpuseram a perigosa linha do Equador! Reconhecidas por Netuno e guiadas por Deus! Adorei a lua e o sol, seguindo a viagem de vocês. Boa viagem !
ResponderExcluirSeguindo sempre.
ExcluirVou repetir o comentário. Vocês conseguiram transpor a perigosa linha do Equador e foram reconhecidas por Netuno. Adorei a lua e o sol seguindo a travessia de vocês. Boa viagem. Que Deus e Netuno continuem cuidando de todas.
ResponderExcluirAqui seguimos com cuidado.
ExcluirUma aula! Viajando com vocês!
ResponderExcluirVem com a gente, Ana!
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