domingo, junho 10, 2007

Prêmio Orilaxé


Era uma quarta-feira de junho, a primeira.
Saímos de São Paulo pela manhã. Fazia frio.
Destino: Rio de Janeiro.
Entre viagem, visita e andanças, o dia passou.
No início da noite lá estávamos nós, à porta do Teatro Villa-Lobos, em plena Copacabana. Fazíamos parte da lista de convidados para assistir à festa de 14 anos do Grupo AfroReggae e entrega do Prêmio Orilaxé 2007.
O convite chegara no meio da tarde, através de Ana Nunes, a produtora de Chico César.
Chico, claro, era um dos premiados da noite.

Com cenários e direção de Gringo Cardia, a festa começou com a apresentação do grupo AfroLata e seguiu pela noite adentro com muita música e entrega do prêmio aos homenageados, 16 pessoas e grupos que se destacaram em suas respectivas áreas de atuação:
  • Jornalismo: o editor-adjunto da editoria Rio do jornal O Globo, Jorge Antônio Barros;
  • Veículo de comunicação: Revista Raça, a primeira revista voltada para o público negro;
  • Fotografia: Luís Paulo Lima, repórter fotográfico;
  • Grupo musical: Digitaldubs Soundsystem;
  • Cantor: Chico César;
  • Cantora: Céu
  • Cultura popular: Mestre Abel Teixeira, do Maranhão;
  • Tradição afro-brasileira: Comunidade dos Arturos, comunidade remanescente de quilombo, de Contagem/MG;
  • Responsabilidade social: Vera Cordeiro, criadora da Associação Saúde Criança Renascer;
  • Direitos humanos: Carlos Nicodemus , coordenador executivo da ONG Projeto Legal;
  • Projeto social: Oficina Escola de Lutheria da Amazônia;
  • Empreendedorismo social: Altair Lira, criador da Associação Baiana das Pessoas com Doenças Falciformes;
  • Produção de conhecimento: Jaílson de Souza, criador e coordenador do Obervatório de Favelas;
  • Inovação social: Associação Lua Nova, destinada a acolher mães e filhos em situação de risco;
  • Políticas públicas: Regina Miki, secretária da Defesa Social e comandante da Guarda Municipal de Diadema/SP;
  • Destaque do ano: André Skaf, empresário jovem, comprometido com a criação de pontes entre as diferenças sociais.
Na linguagem dos povos iorubas, orilaxé significa "a cabeça tem o poder de realização". Nesse espírito, cada prêmio foi associado a uma cabeça revolucionária, que era apresentada num telão, antes de cada premiação. Regina Casé emprestou sua voz para essas apresentações. Por ali desfilaram: Antônio Conselheiro, Stevie Biko , Martin Luther King, Renato Russo, Chico Mendes, Nise da Silveira, Chico Science, Zumbi, Jesus Cristo, Karl Marx, Buda, Che Guevara, Paulo Freire, Gandhi e Bob Marley. Suas fotos ilustravam também o troféu a que seus nomes foram associados.
A Chico César coube o troféu Chico Mendes. Vejam como foi:

O homenageado da noite foi Wally Salomão, mestre na formação de líderes do AfroReggae.
A família do poeta morto esteve presente para receber a homenagem.
E o show continuou.
Banda AfroReggae e convidados: Mart´nália, Arlindo Cruz, Alexandre (Natiruts), Rappin’ Hood, César Lopez - colombiano, criador da “escopetarra”, guitarra construída com armas usadas em conflitos.
Quando vimos Rappin’ Hood no palco, identificamos nosso companheiro de viagem no avião da Varig naquela manhã. Coincidência!
Pra terminar, alunos da oficina de violino do AfroReggae - Acorda Lucas - a banda 190, da Polícia Militar do Rio de Janeiro e a própria banda AfroReggae nos fizeram chorar ao som de Imagine.
Mas... estávamos no Rio de Janeiro!
A Equipe Furacão 2000 invadiu o palco e tudo acabou em funk.
Pena! Quebrou-se o clima de emoção que a união favela & polícia havia criado com a canção de John Lennon.
À saída, o saguão do Teatro Villa-Lobos estava enfeitado por varais improvisados de onde pendiam saquinhos de salgadinho da Elma Chips. Pegamos os nossos. Beijamos nosso anfitrião e saímos para a noite carioca.
No céu, a lua parecia um queijo partido ao meio.
***
Quem quer mais?
Aí vai:
Um álbum das fotos feitas por Ana Oliveira durante o evento:

Clique e veja as fotos

E o site do Grupo AfroReggae, onde há mais fotos e notícias daquela noite:

domingo, junho 03, 2007

Venha ver o pôr do sol

Envolvidos com tantos afazeres, muitas vezes nos esquecemos do espetáculo diário do pôr do sol. O astro-rei, entretanto, cumpre seu ritual a cada dia, criando momentos mágicos para os que se dispõem a contemplá-lo.
Sabiam que há até um "ranking" dos mais belos poentes no país?
O Guia Quatro Rodas 2004 informa que, da Duna do Pôr do Sol, na Praia da Jericoacoara, Ceará, pode-se contemplar o mais lindo pôr do sol das terras brasileiras. Em 2002, estivemos lá e pudemos comprovar: é mesmo indescritível. Naquela época ainda não tínhamos nossas máquinas digitais, por isso tomamos emprestada uma foto que faz justiça a essa beleza, para ilustrar esse relato:
De acordo a mesma fonte, o segundo pôr do sol mais belo do país acontece na Praia do Jacaré, na Paraíba. É uma praia fluvial, por onde passam as águas do Rio Paraíba.
É ali, que José Jurandy Félix, o Jurandy do Sax, executa diariamente o Bolero de Ravel.
No dia 23 de janeiro, estivemos lá para ver. Vestido de branco, empunhando seu saxofone, Jurandy inicia seu ritual às 17h30, num dos bares à beira do rio.
O saxofonista prossegue. Se encaminha lentamente para uma canoa e, tendo o espetáculo do sol ao fundo, continua a tirar de seu instrumento as notas da canção, até que o último raio solar desapareça no horizonte.
Há quem diga que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba elaborou um projeto que prevê o tombamento do pôr do sol da Praia do Jacaré como bem material, no intuito de preservar e proteger o local. Tomara!
Em janeiro de 2004, pudemos presenciar o terceiro pôr de sol do Brasil: no Mirante do Boldró, em Fernando de Noronha, Pernambuco.
Ao final de um dia memorável, percorrendo a ilha de cabo a rabo, chegamos ao mirante. Ainda era cedo. O sol estava alto. Para acompanhar a merecida cerveja, uma surpresa: de um velho aparelho de som saiam as notas de "Cântico à natureza", na voz de Chico César e Nelson Sargento. Entre papos e fotos, o espetáculo aconteceu.
O fato de termos presenciado esses famosos ocasos não nos impediu de admirar outros - mais comuns, mas não menos belos.
Em João Pessoa, depois da tormenta que nos recebeu, o céu se tingiu de dourado e pudemos ter esperança de que o dia seguinte seria melhor... e foi.

Depois do memorável show nudista em Tambaba, nos pusemos a caminho de Campina Grande, que seria nosso pit stop na corrida para Catolé do Rocha. Era o fim de uma tarde de sábado. O dia tinha sido agradável: pouco sol , nenhuma chuva e muitas emoções. E o sol se escondendo entre nuvens paraibanas.
E Natal, no Rio Grande do Norte, onde enfrentamos o dia mais chuvoso de nossas férias, soube nos recompensar com lindos tons dourados em nosso último dia de viagem, naquele verão de 2004.
Três anos depois, voltamos a contemplar a despedida do astro-rei nos céus do Brasil. Dessa vez, em pleno Rio Amazonas, seus raios coloridos encantaram o final de mais um dia de aventuras.
Foto: Ana Oliveira
Como o sol, a vida é bela, quente e colorida. Reclamar, quem há de?!
PS. Essa postagem é uma edição revista e atualizada de outra, que escrevi em 2004, num blog antigo: Venha ver o pôr do sol