A dinastia Malla reinou no Nepal durante quase 600 anos, entre os séculos XIII e XVIII. No final do século XV, com a morte do Rei Jayayakshya Malla, o poder passou para seus seis filhos, que inicialmente governaram em forma de colegiado.
Nem é preciso dizer que esse governo conjunto não deu certo e logo logo os mais espertos foram deixando os outros pra escanteio e, entre tapas e beijos, o centro do reinado acabou dividido em três: Kathmandu, Patan e Bhaktapur.
A rivalidade entre os novos reinados causou inúmeros conflitos, mas também proporcionou um período de ouro ao país, já que os três reinos buscavam se superar em termos de arquitetura e arte.
Assim, não foi à toa que a UNESCO declarou o vale de Kathmandu como Patrimônio Mundial da Humanidade. O lugar é um verdadeiro museu ao ar livre, com templos e pagodes construídos ao redor dos palácios: as Durbar Square.
Visitamos as três magníficas Durbar Square, uma mais encantadora que a outra. Difícil eleger a favorita.
Nosso espanto começou mesmo antes de chegar ao espaço da praça propriamente dita. Vínhamos da visita à estupa Swayambhunath, o carro nos deixou num ponto próximo à entrada e, no caminho, já topamos com o belo Bhimsen Temple.
Poucos minutos depois, já tínhamos nossas credenciais de turistas para visitar o complexo.
Em pleno terreno palaciano, nos dirigimos para o Kumari-ghar, o palácio da Deusa Vivente.
Ali reside a Kumari (= virgem), uma deusa menina que se acredita ser a reencarnação da deusa Taleju.
Foto: Ana Oliveira |
Em pleno terreno palaciano, nos dirigimos para o Kumari-ghar, o palácio da Deusa Vivente.
A Kumari é selecionada no clã Shakya, em idade bastante precoce – entre 4 e 5 anos – e tem que atender a vários requisitos, como: dentes perfeitos, cabelos e olhos escuros, voz clara.
Uma Kumari perde sua divindade quando tem a sua primeira menstruação ou quando sofre algum acidente com perda de sangue. Quando isso acontece, a Kumari tem que renunciar formalmente ao título e é dada a largada para a escolha de uma nova deusa viva.
Uma Kumari perde sua divindade quando tem a sua primeira menstruação ou quando sofre algum acidente com perda de sangue. Quando isso acontece, a Kumari tem que renunciar formalmente ao título e é dada a largada para a escolha de uma nova deusa viva.
Ser escolhida como Kumari é um privilégio que custa caro às meninas. Elas têm sua vida afastada de tudo o que é normal para uma garota de sua idade: não podem ir à escola, só se comunicam com um número restrito de pessoas, só saem à rua para os festivais religiosos.
Dentre as tarefas da Kumari, está a de aparecer de quando em quando numa das janelas de seu palácio e abençoar os presentes. Diz a lenda que quem tem o privilégio de estar ali na hora da aparição da deusa terá sorte pra sempre. Nós tivemos essa honraria!
Não é permitido fotografar a menina deusa. No momento em que estávamos lá, ela fez menção de aparecer em sua janela e voltou rapidamente para dentro quando viu uma pessoa usando sua câmera fotográfica. Só voltou depois que a turista fotógrafa foi advertida e guardou suas lentes.
Bem, ao contrário do que se possa pensar, a turista indisciplinada não era nenhuma de nós quatro, por isso só temos registro da nossa protetora nesse postal que compramos por lá:
Bem, ao contrário do que se possa pensar, a turista indisciplinada não era nenhuma de nós quatro, por isso só temos registro da nossa protetora nesse postal que compramos por lá:
Duplamente sortudas – sim, pois nessa mesma manhã Vilma tinha encaçapado uma moeda no pote da sorte do Buda, a caminho da estupa Swayambhunath – saímos do Kumari-ghar para flanar entre os monumentos da Durbar Square de Kathmandu.
Esse conjunto é também conhecido pelo nome de Hanuman-dhoka Durbar Square, desde que, em 1672, o então rei Pratap Malla fez colocar uma estátua de Hanuman na entrada do palácio real.
Foto: Ana Oliveira |
Com o terremoto de abril de 2015, as milenares construções de Kathmandu sofreram muito e grande parte delas está em estado precário, mas nem por isso menos impressionante.
Vai aí um pouco do que vimos por lá naquela manhã de sábado:
Kal Bhairav: imagem de pedra onde Shiva é representado em uma manifestação destrutiva. Usada para fazer juramentos pela verdade. |
Panchamukhi Hanuman Temple |
Parte do palácio Basantapur Foto: Ana Oliveira |
Mahadev Temple South Foto: Ana Oliveira |
Maju Dega Temple Foto: Ana Oliveira |
No telhado do Kumari-ghar Foto: Ana Oliveira |
Um dos guardiães do Hanuman Dhoka Palace Foto: Ana Oliveira |
Tago Gan O sino soa sempre que há adoração no Degutaleju Temple |
Imponentes os domínios dos irmãos MALLA. Kathmandu, PATAN E BHAKTAPUR, têm realmente, muito o que mostrar, em matéria de Templos e Pagodes. As Durbar squares são muito bonitas. E as cenas ,cotidianas retratadas pela lente mágica da Ana são muito reveladoras. Interessante, também, a história das Kumaris e, muito simbólico, o postal que "as abençoadas" trouxeram. Curti bastante...
ResponderExcluirPois é, Kathmandu é um espanto a cada passo.
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