Chegamos a Pushkar com as cores do entardecer refletindo nas águas santas do lago.
O hotel da vez foi o Ananta Resort & Spa, que não é lá essas coisas, mas cumpriu a missão de nos oferecer descanso depois do longo dia que tivemos com muitos quilômetros de estrada e muitas aventuras em Chittorgarh.
Pushkar é uma cidade de grande importância religiosa para os hindus porque ali se encontra o único templo dedicado ao deus Brahma. (Parece que não é o único, mas os guias afirmam que sim...)
Contam que Brahma pretendia realizar uma celebração diante de uma fogueira sagrada e contava com a presença de sua esposa, a deusa Saraswati. Ela, entretanto, atrasou-se para a cerimônia. Irritado com a demora da esposa, Brahma decidiu casar-se com Gayatri.
Quando a Saraswati finalmente chegou, não gostou nada de ver o marido casado com outra e, em represália, lançou-lhe uma maldição: Brahma nunca poderia ser adorado em qualquer outro lugar do mundo além de Pushkar. Empoderada essa Saraswati!
Detalhes do painel mostrando cenas da celebração, incluindo as deusas. Todas! |
Entender essa história contada pelo guia, que tinha pouquíssima fluência no espanhol, foi bem difícil, mas pra que existe Google, né gente? ¯\_(ツ)_/¯
Foto montada pelo Google a partir de alguns clics meus |
O lago da cidade também tem sua história ligada ao deus criador do mundo. Dizem que ele surgiu no local onde Brahma deixou cair algumas pétalas de uma flor de lótus. Há inclusive um monumento no exato lugar onde tudo começou.
Segundo a lenda, foi nesse lugar que caiu a flor de lótus da mão de Brahma |
Foto: Ana Oliveira |
Lago sagrado, templo de Brahma e mais um sem número de templos espalhados pela cidade, formam o cenário completo para fazer de Pushkar um lugar perfeito para peregrinação.
Pois, naquela sexta-feira, nos tornamos também peregrinas.
Começamos visitando o colorido templo de Brahma.
Olha a gente aí, descalças.
Foto: Ana Oliveira |
Aliás, uma cena constante na viagem era tirar e pôr sapatos. Em todo e qualquer templo, descalçar-se é lei. Até no templo da motocicleta, que visitamos no caminho entre Jodhpur e Ranakpur! E no dos ratos em Deshnoke? Também, mas ali recebemos do guardador de sapatos um chinelinho. Ô sorte!
Seguimos para o lago. No caminho, templos e mais templos.
Ninguém se perde em Pushkar Foto: Ana Oliveira |
Para os devotos, as águas do lago de Pushkar são consideradas tão sagradas quanto as do Ganges, por isso atraem muitos peregrinos que não têm condições de chegar até o famoso rio.
Às margens do lago existem os ghats, degraus que possibilitam que as pessoas possam chegar até a água para fazer suas orações, banhos e cerimônias.
Quando chegamos ali, o guia nos consultou sobre a possibilidade participarmos de uma oração e benção com um sacerdote hindu. Seria uma celebração simples e sem custo, mas deveríamos oferecer gratificação ao celebrante. (Ele sugeriu 200 rúpias por pessoa. Algo como 10 reais.) Aceitamos.
O guia saiu em busca do sacerdote. E instantes depois tínhamos nossos assentos em tapetinhos num dos gaths, nosso pratinho de oferendas e nosso próprio brâmane.
Foto: Ana Oliveira |
As oferendas: grãos de arroz, açafrão, pétalas de flor, docinhos, barbante e tinta vermelha.
Foto: Ana Oliveira |
O sacerdote recitava alguns mantras e nós íamos repetindo. O objetivo era enviar energia e bons fluídos para as nossas famílias.
Depois das orações, ele amarrou barbante amarelo e vermelho em nossos pulsos, pintou nossas testas com tinta vermelha e colocou pedacinhos de grão de arroz colados na tinta.
O que restou no pratinho foi oferecido às águas do lago, exceto os docinhos, que deveriam ser levados para nossas famílias.
Simples e alegre! E nem precisa ser devoto de qualquer religião, bons fluidos não fazem mal a ninguém.
Seguimos com nossa peregrinação pela cidade, cruzando toda uma zona de comércio onde a maioria das lojas tinha templos particulares no andar superior.
Foi nesse trajeto que consegui meu momento de sorte: distraída com o que via, pisei no que não via, um monte de merda de vaca. Demorô!
Vilma registrou tudo! |
Por fim, chegamos a um conjunto arquitetônico incrível, com antigas construções e templos lindíssimos que só podiam ser vistos por fora, uma vez que o interior daqueles que estavam ativos era reservado somente aos hindus. Nada de turistas curiosos!
Sri Raghunatha Swamy Temple |
Old Rangji Temple |
Ana satisfez a curiosidade fotografando cenas do cotidiano em volta dos templos.
A caminho de Jaipur, almoçamos na estrada no restaurante do Laxmi Villas Palace. Naquela altura da viagem já estávamos um pouco cansadas da comida condimentada dos indianos. Optamos por um chicken tikka no espeto, bem assadinho e pouco temperado. Olha que delicinha:
Um dos guias anteriores tinha nos ensinado que a palavra tikka que aparece nos cardápios significa que a carne não tem osso. Funcionou! Adorei, pois detesto osso no meu prato.
Um dos guias anteriores tinha nos ensinado que a palavra tikka que aparece nos cardápios significa que a carne não tem osso. Funcionou! Adorei, pois detesto osso no meu prato.
Algumas horas depois, cruzamos as portas da capital do Rajastão: Jaipur, a cidade rosa.
Que profusão de fotos em Pushcar ! Aquelas celebridades mostradas, incluindo as deusas, todas, inclui também vocês quatro ? Recebi os bons fluidos. Estou aguardando os docinhos. Eram "diets" ? Parabéns pela excelente narrativa
ResponderExcluirSylvio
Os docinhos foram dados a uma criança carente. Não eram diet!
ExcluirClaro que nos incluímos no rol das deusas...
Obrigada pela visita, pelos comentários e pelos cumprimentos.