Antes
de tudo, é de bom tom me apresentar, né? Aqui é a Gabriela Romeiro, viajante e
fotógrafa amadora, e vou aproveitar esse espacinho aqui no blog oferecido pela
Carmem pra falar sobre a minha experiência de ter visto a Aurora Boreal na
Islândia.
Não sei dizer bem
quando o bichinho da aurora boreal me picou pela primeira vez. Mas posso dizer,
pela quantidade de grupos de caçadores de Northern Lights que existem na
internet, não são poucos os que me acompanham nessa. A diferença é que a
maioria mora em lugares como Noruega, Islândia e Polo Norte, onde é possível vê-las
com certa frequência.
Me encontrar com a
Lady Aurora parecia um sonho distante, algo bem fora do meu alcance. Até que no
meu primeiro mochilão pela Europa conheci uma islandesa muito simpática que me
contou algumas coisas sobre o país e disse: “Você precisa conhecer a Islândia e
viver isso, mas tem que ser no inverno”.
Foi assim que na
virada do ano de 2013 pra 2014 eu fiz uma promessa pra mim mesma: ir pra Islândia
na época certa (depois de pesquisar vi que era verdade: luzes coloridas no céu,
só em épocas frias). Ver ou não ficaria por conta da vontade da natureza e da
sorte (palavra importante quando o assunto é aurora).
O planejamento pra
essa viagem é extenso e envolve, principalmente, escolher a data certa. Além
dos muitos preparativos, outra questão importante: como fotografar a aurora?
Nas pesquisas descobri que a maioria dos caçadores de aurora também são aficionados
por fotografia, e uma câmera simples não daria conta do recado. Foi aí que
resolvi já andar metade do caminho, juntar minhas poucas economias, largar uma
rotina chata, fazer minhas malas e ir estudar fotografia na Europa. Simples
assim? Sim e não, ao mesmo tempo.
Me mudei pra Irlanda e
comecei um curso de fotografia incrível com o professor Michael Conlon, com
planos de ir pra Islândia em Dezembro, segundo informações, dos melhores meses
pra se ver a aurora por lá. Antes disso cheguei a acampar por três dias em
praias congelantes na ponta norte da Irlanda, em Donegal, onde possível ver a
aurora também, mas a sorte não foi proporcional ao frio. Eis outra palavra
importante pra quem está nessa missão: frio. Se acostume, pois mesmo com
casacos poderosos e toda a parafernália, você vai sentir muito frio.
Eu e Maria Teresa,
companheira de viagem que saiu do Brasil e se juntou a mim em Dublin, compramos
todas as passagens com seis meses de antecedência. Como não existem voos saindo
direto de Dublin pra Islândia, pesquisamos a escala mais óbvia: Londres. Em
minha opinião, um erro que muitos cometem ao partir pra Islândia, já que os
preços das passagens saindo da Inglaterra sempre me pareceram exorbitantes.
Depois de simular vários stop over possíveis e dar preferência a cidades que
ainda não conhecíamos, chegamos à fórmula: Dublin – Oslo (viajando de Ryanair,
baratíssima), Oslo-Keflavik (voo operado pela Icelandair – lembrando que o
aeroporto mais perto de Reykjavik é o Keflavik), Keflavik-Edimburgo (sairíamos dois
dias depois do Natal em um voo operado pela Easyjet – a opção mais barata pra
chegar à Islândia, e que de quebra nos deu a chance de conhecer o Hogmanay,
famosa festa de ano novo escocesa) e depois Edimburgo-Dublin, usando novamente a Ryanair.
Passamos três dias em
Oslo e o frio assustou muito. Tive hipotermia nas mãos e muito medo do que
seria de mim ao chegar a Iceland. Mas a fama de ilha do gelo não fez jus à
temperatura que estava quando chegamos lá: variando de 1 a 3 graus, um alívio
comparado aos -14 da Noruega. Locais atribuem isso a uma corrente de ar quente
que passa pelo país. Ufa.
Chegamos ao aeroporto
de Keflavik no fim da tarde. Compramos um transfer em um ônibus que nos deixou
na porta do hotel, em Reykjavik. Foi uma viagem curta e agradável, já que ao
olhar pela janela tudo parecia surreal. Ficamos no hotel Natura Reykjavik, e apesar de não ficar no centro, vale a pena
pelo conforto, limpeza, preço e ainda oferece um passe pra que você use quantos
ônibus quiser durante a sua estadia.
Como ninguém queria
perder tempo, já havíamos programado um tour chamado The Northern Lights Bus Tour pro mesmo dia da chegada. O que mais me atraiu
no tour com relação aos outros disponíveis foi a possibilidade de voltar no dia
seguinte sem pagar a mais caso as luzes não aparecessem, além da paciência da outra
Maria, a tour guide, que leu e respondeu meus emails desde quase um ano antes
da viagem.
Escurece bem cedo na
Islândia nessa época, e no meio da noite do dia 23 de Dezembro de 2014, entramos
num ônibus com alguns outros turistas em busca das Northern Lights.
Enquanto nos
afastávamos das luzes de Reykjavik, Maria contava que os dias anteriores não
tinham sido muito bons, e que algumas pessoas voltaram frustradas pra casa sem
ver nada. Mas não demorou para que o motorista, gritando algo em Icelandic, parasse
o ônibus em uma geleira e dissesse que era hora. O show tinha começado.
Sim, na primeira noite
elas estavam dançando pra gente. E não só dançando, cantando. No começo eu não pensei
fotografar nada, fiquei só olhando pra cima, maravilhada, rezando baixinho, com
os olhos cheios de lágrimas, agradecendo a oportunidade de presenciar esse
presente da natureza. É uma sensação confortável de pequeneza e de confiança na
sabedoria do universo, e por mais que eu escreva aqui, sei que vai virar um
papo místico e eu não vou conseguir descrever. Se você já viu, sabe. Se não
viu, se dê essa chance, ao menos uma vez na vida.
Elas dançaram por
muito tempo naquela noite. Quando recobrei os sentidos, saquei o meu tripé
comprado a preço de banana na Amazon, encaixei a câmera, ajustei o tempo de
abertura da lente pra 15 segundos, foquei no escuro e fiz minha primeira foto
da aurora. Até hoje eu não sei como consegui focar em alguma coisa, ou como
consegui suportar 3 horas no vento que tantas vezes me arrastava, ainda mais
quando percebi, ao voltar pro ônibus, que meu casaco estava aberto. Na hora,
não senti nada. Uma dica importante é: use botas antiderrapante próprias pra
neve. Como você vai se meter no meio do gelo, o risco de você escorregar e cair
é muito grande. E caso ela cruze o céu inteiro, desista de fotografar, apenas
olhe e guarde na memória esse momento que câmera alguma vai conseguir captar.
Enquanto eu
fotografava, muitas pessoas se aproximavam pra entender porque não conseguiam captar
nada com as câmeras comuns. Se você pretende fotografar a aurora, o mais
importante é uma câmera que te deixe ajustar a velocidade, ou o shutter speed.
O foco precisa ser manual e você vai precisar testar algumas vezes, já que não
dá (ao menos eu não consegui) pra focar certinho de primeira enquanto as luzes
dançam. Ajuste o foco numa estrela, se conseguir. Se você quer sair na foto
também, use a técnica de mixed light pra não sair tremido (use uma camada de
flash no fim do tempo de exposição pra fixar a sua imagem). Se é possível
fotografar a aurora no celular? Sim. Não vai sair aquela maravilha, mas é só
baixar um aplicativo que te deixe ajustar o tempo de exposição. Ficamos por
algumas horas do lado de fora do ônibus. O tour também inclui chocolate quente,
e foi o melhor chocolate quente da minha vida, não sei se pela bebida em si ou pela
temperatura quentinha.
Quando o motorista
disse que era hora de voltar, as luzes ainda dançavam no céu. Voltamos olhando
a aurora pela janela. Ao olhar pela janela, vejo também um canhão de luz
voltado pro céu, e descubro que se trata da Imagine Peace Tower, monumento
feito pela Yoko Ono pra homenagear o John Lennon e que fica aceso entre 21 e 31
de Dezembro. Maria, a guia, nos disse que aquela era a noite mais bonita do ano
até então, e que tínhamos muita, muita sorte.
(Imagine Peace Tower.
Foto: visitreykjavik.is)
|
Engana-se quem pensa
que Islândia é só aurora boreal. As chances de não ver a aurora estando lá
existem, portanto se o seu único objetivo é esse, aconselho que viaje para
Tromso, na Noruega, onde a incidência é ainda maior. Escolhemos a Islândia por
outros motivos, como as lagoas glaciais naturalmente aquecidas, os geysers, o
Golden Circle, a Blue Lagoon, um país que não faz diferença entre banheiro
masculino e feminino, onde chama atenção a quantidade de homens que cuidam e
passeiam com os filhos sozinhos... Coisas que a gente só percebe que é raro em
nosso país quando vê bastante em outro.
Os islandeses mereciam
um capítulo à parte e eu não pretendo me alongar ainda mais, mas conhecemos
pessoas incríveis. Fomos incluídas numa ceia de Natal onde menos esperávamos, e
mesmo trabalhando, todo mundo sorria. Eu não sei se todo mundo é feliz na
Islândia, mas me parece que há muito pouco a reclamar além do frio. O que dizer
de uma cidade que elege como prefeito Jon Gnarr, um humorista que usa ternos
cor de rosa choque, se veste de Drag Queen durante a parada do orgulho gay e
vive se vestindo de Jedi?
O prefeito de
Reykjavik
|
No último dia, pra
nossa surpresa, andando pelo centro de Reykjavik, todos olhavam pra cima... Era
Lady Aurora, de novo, dessa vez tão forte que era possível vê-la do centro,
mesmo com todas as luzes da cidade.
Deixar a Islândia foi
difícil, ainda mais sabendo da enorme festa tradicional de ano-novo, mas seguimos
pra Edimburgo com a sensação de que cada momento valeu a pena, e que
deixaríamos um pouco de nós naquele lugar. Eu li num relato de Islândia escrito
pelo Elder Costa que a vontade era de abraçar cada pessoa a caminho do
aeroporto, e foi exatamente o que senti também.
Pra
encerrar, um fato que nos marcou muito. Na fila pra Blue Lagoon, perguntamos ao
atendente se seria necessário alugar chinelos ou comprar água, o que sairia
caro, e ele disse que não havia necessidade nenhuma de nenhum dos dois: a água
das torneiras era potável e mal usaríamos os chinelos. Nem parecia que ao dizer
isso estaria perdendo a chance de lucrar em cima de duas turistas desavisadas.
Isso, junto ao fato de estarmos mergulhando numa lagoa quente, no meio da
geleira, nos fez concluir que a Islândia pode até estar no mapa. Mas não parece
o Planeta Terra.
Espero que tenham
gostado e coloco meu email à disposição pra quem quiser mais dicas: gabiromeiro@gmail.com
Até a próxima.
Gabi
_______________________
Obrigadinha, Gabi! ☺
Gaby, sou sua fã. Cê sabe, né? Adorei o relato. Parabéns!
ResponderExcluirMi, obrigada <3 Pra vc tá fácil de ir, ein? Beijo!
ExcluirLindo post! Sonho ver a aurora... Quem sabe ano que vem..
ResponderExcluirFlora, não deixe de ir, é inesquecível :)
ExcluirOi, Gabriela. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Uhuuuuu!
ExcluirMuito legal! obrigada <3
ExcluirSegurei uma lagriminha aqui lendo o quanto você se emocionou. Que coisa linda!
ResponderExcluirCá, eu choro só de ver foto, <3
ExcluirNossa! Seu relato me emocionou. Chorei.Deu vontade de enfrentar o frio e ver a aurora boreal na Islândia.
ResponderExcluirvoce escreve muito bem.
adorei.
To apaixonada pelo seu relato! Estou indo realizar o sonho de ver auroras agora em Novembro!!! 4 dias em Tromso e 6 dias na islandia!!! Mas estou vivendo um dilema! Não gosto de cameras SLR porque não levo jeito pra ficar manuseando tanto equipamento pesado! Tenho pensando em comprar uma camera compacta que atendesse as caracteristicas da aurora f2.8 , exposição até 30s, ISO ao menos de 6400 etc. Você acha que com essas características umas lente atenderia? Obrigada!!!!
ResponderExcluirOi Monalisa! Então, com essas características deve funcionar pra tirar fotos da aurora sim, normalmente exposições de 15seg foram suficientes. Existe alguma câmera compacta que possibilita você configurar manualmente? Porque a maioria configura automaticamente, então não sei... E em uma SLR você precisaria configurar as mesmas coisas, o F, a exposição e o ISO, será que não compensa mais? A T5i tem preço ótimo e dá conta... Ah, um tripé também é uma boa pedida, pras exposições longas não saírem tremidas. Boa sorte, :)))
ResponderExcluir