terça-feira, agosto 29, 2006

A vida é cópia da arte

José Celso Martinez Corrêa - o Zé Celso do Oficina - está relançando a saga de Os sertões. São 5 episódios, todos de longa duração. Na sexta-feira, dia 18/08 vimos o primeiro: A terra. Foram três horas e meia de novas emoções, a começar pelo próprio espaço do teatro. Líndíssimo! Obra de Lina Bo Bardi.
E no domingo, 27/08, voltamos ao Oficina pra ver O homem I. Mais emoções, durante as 5 horas de espetáculo.
Olintho, nosso amigo, é o figurinista. Maravilhoso! Foi ele quem nos convidou.
Ver Zé Celso em cena me fez lembrar outro espetáculo. Foi no Centro Cultural Banco do Brasil, aqui em Sampa. Dentro do projeto Encontros Improváveis, concebido por Carlos Careqa, os convidados eram José Miguel Wisnik e Zé Celso. Encontro nem tão improvável, já que os dois haviam feito algum trabalho juntos em tempos passados... Mas inesquecível. Era dia 05 de maio de 2004. Comemorava-se um ano da morte de Waly Salomão. Saí do pequeno teatro do CCBB encantada e escrevi o relato que reproduzo a seguir:
Ao fundo, com voz suave, Zé Celso cantava, "Oh, minha honey baby, honey baby...", enquanto Zé Miguel lia compenetrado "Areia pedra ancinho Jardins de Kioto..." Assim, com Vapor barato e A vida é cópia da arte, esses dois Zés homenageavam Waly Salomão. Era cinco de maio, há um ano Waly deixara esse mundo.
Zé Celso se lembrou também, que há 35 anos, também num cinco de maio, Cacilda Becker, esperando Godot, encontrou o aneurisma que lhe quitou a vida pouco tempo depois.
Antes dessas reminiscências, eles já haviam cantado e tocado piano, juntos e separados; já haviam brindado a esse encontro (im)provável com uma taça de vinho tinto; já haviam dançado; já haviam trocado abraços e olhares.
Isso acontecia no evento "Encontros improváveis", idealizado pela fantasia de Carlos Careqa e realizado pelo Centro Cultural Banco do Brasil.
Havia ainda muito por vir. Quase ao final do encontro, olhos nos olhos, cantaram Sem fantasia - lembram? "Vem, meu menino vadio..." O dueto terminou com um looooongo beijo na boca.
Vibrando, o pequeno e seleto público daquele teatro não parou de aplaudir a dupla. Tiveram que voltar para o bis. Escolheram o Soneto do olho do cu, fruto de um provável encontro anterior.
Instado por Zé Miguel a deixar o palco, Zé Celso insistiu em ler, inflamado, um belo texto sobre o papel do teatro nos dias de hoje.
Abraçados, deixaram o palco sob muitos aplausos.
Enquanto saía do teatro, pensava nos amigos que gostariam de ter visto tal encontro: por Salomão, Luiz Roberto. Por Zé Celso, Plínio. Por tudo, Ana Maria. E em outros tantos, vocês, que estão lendo esse texto, que certamente teriam, como eu, vibrado com esse encontro imperdível.

Ainda encantada com o encontro, procurei o poema do controvertido poeta da tropicália, que deu nome a esse post e ao relato de 2004. Aí está:

A vida é cópia da arte

Waly Salomão

Areia
Pedra
Ancinho
Jardins de Kioto

Alucinado pelo destemor
De morrer antes
De ver diagramado este poema
Ou eu trago
Horácio pra cá
Pra Macaé-de-Cima
Ou é imperativo traí-lo
E ao preceito latino de coisa alguma admirar

Sapo
Vaga-lume
Urutau
Estrela

Nestes ermos cravar as tendas de Omar

Ler poesia como se mirasse uma flor de lótus
Em botão
Entreabrindo-se
Aberta

Anacreonte
Fragmentos de Safo
Hinos de Hörderlin
Odes de Reis
El jardín de senderos que se bifurcan
Jardim de Epicuro
Éden

Agulhas imantadas & frutas frescas para a vida diária.

2 comentários:

  1. Gostei do post, do poema do Salomão, do texto escrito por vc em 2004, só naum gosto mto do cara da foto, q esqueci o nome.
    Bjos,
    Juliana

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  2. LIndo o poema do Wally. Eu conhecia ele desde os anos 70 . Depois nos tornamaos vizinhos em Macaé de Cima , citado no poema.
    Quem quiser mais informacoes sobre esse paraiso veja o site do meu sitio em http://henriquef.wordpress.com

    [ ]s

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