terça-feira, setembro 23, 2014

Um segredo de Madri - parte 1

Se a arte de viajar deveria nos proporcionar a emoção de encontrar caminhos nunca antes percorridos, dando-nos a sensação de sermos novos Colombos, a avalanche de  literatura de viagem - boa e má - que nos atingiu nos últimos tempos deixou-nos muito pouco por descobrir. 
Constato que todas as rotas já foram desbravadas e que a nós, viajantes do século XXI, cabe apenas confirmá-las, acrescentando uma novidadezinha aqui ou uma pequena descoberta complementar acolá. 
Os viajantes já descobriram o mundo todo!
Mas é certo que isso não nos tira o prazer da viagem, já que, mesmo transitando por caminhos anteriormente trilhados por outros viajantes, a nossa experiência é sempre pessoal e única.
Então... quer lugar mais "batido" que Madri? Eu mesma já perdi a conta das vezes em que estive lá. Os dedos de uma das mãos seriam suficientes para contar quantos de meus amigos viajantes ainda não gozaram dos deleites da capital espanhola: mercados gastronômicos, museus, parques, vinhos, shows, mirantes, edifícios, touradas e tanta coisa mais. 
Uma breve busca no Google ou nos blogs de viagens trará uma gama de informação suficiente para aturdir qualquer calouro.
Pois não é que, apesar disso, nessa última viagem conheci uma "novidade" em Madri!?!?!?!?!?!
Bem, não é assim... uma novidaaaade. A coisa tem mais de mil anos. Mas, vejam só: numa rápida passagem pelo Google encontrei apenas um blog em português que fala sobre o assunto: o Roberto, paulista radicado na Espanha há 8 anos, é o autor do Um brasileiro na Espanha e escreve um post impecável sobre esse segredo madrilenho tão bem guardado: as muralhas árabes e cristãs que cercaram e defenderam a cidade desde o século IX. Eu disse que o negócio era milenar!
Durante nossa viagem pela Jordânia, conhecemos o casal espanhol José e Alicia,. Eles faziam parte do grupo com o qual fizemos os passeios por lá. Sabendo que nosso próximo destino seria Madri, eles nos convidaram para um passeio pela cidade. Queriam nos mostrar algo que não conhecêssemos. Tudo o que eles sugeriram nós já tínhamos visto. Ana lançou então um desafio: "mostrem-nos algum segredo de Madri!"
E não é que a provocação surtiu seu efeito? José e Alicia decidiram nos mostrar as muralhas de Madri, tema sobre o qual tinham muitas informações. E  nos apresentaram tudo, tim tim por tim tim.
Numa manhã de sábado nos encontramos na Plaza de Isabel II, em frente à Ópera. Ali, antes de iniciarmos nosso roteiro, demos uma olhada nessa maquete que está aí do lado. O traçado menor retrata a muralha árabe, construída no século IX, e o maior reproduz a ampliação realizada pelos cristãos três séculos depois, respondendo às necessidades criadas pela expansão da cidade.
Saindo da praça, pelo lado esquerdo de quem olha para o Teatro Real, está a Calle de Vergara, onde, logo adiante, na esquina com a Calle Unión, foi colocada pela prefeitura da cidade uma placa indicando que ali estivera uma das portas da muralha, a Puerta de Valnadú (Puerta que da al Valle), mas José nos contou que o marco está em lugar equivocado: a porta ficava, mesmo, onde hoje está o Teatro Real.


Caminhando em direção à Plaza de Oriente, José e Alicia nos explicaram como identificar a origem das muralhas que veríamos: as árabes são construídas com blocos de pedra bem trabalhados e contam com torres quadradas, enquanto as cristãs apresentam pedras irregulares e têm torres redondas.
Com o crescimento da cidade, essas antigas muralhas ficaram escondidas e o que hoje se vê são apenas alguns segmentos, que aparecem em lugares inusitados, como hotéis, estacionamento, bares e até mesmo construções particulares.
Conversa vai, conversa vem, chegamos à Plaza Oriente e enveredamos para dentro de um estacionamento subterrâneo. Ali, próximo à vaga nº 42, dentro de um painel de vidro, estava o que restou dos fundamentos da Torre de los Huesos, posto de vigilância que ficava no interior do recinto árabe. Seus alicerces foram encontrados quando se construiu o estacionamento e, pela intervenção de algumas entidades culturais, foram preservados. Dá pra imaginar? Você estaciona seu carro e de quebra faz uma visitinha a uma torre do século XI...


Saindo dali, fizemos um pit stop na bela cripta da Catedral de Almudena e, depois de muitas fotos, continuamos nossa peregrinação.
Deixo aqui cenas da cripta e a promessa de um segundo capítulo contando - e mostrando - como foi nosso périplo pela Madri Medieval.


9 comentários:

  1. Para uma criatura que não curtiu Madrid, dizer que está com uma súbida e fogosa vontade de retornar explica o efeito desse texto? Encantada com a história e com as imagens!! BjO

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom!
      E eu só comecei a contar a experiência. Enquanto aguarda o próximo capítulo, já pode ir vendo a passagem aérea. ☺

      Excluir
  2. Adorei, Carmem! Lindo post :-) Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Lu! Foi um passeio e tanto. Espere a segunda parte. 🌷

      Excluir
  3. Oi, Carmem! Realmente, Madri tem muitos segredos. Te apresento um parque e uma igreja pouco mencionadas nos guias. Espero que você goste! http://umanonaespanha.blogspot.com.es/2014/09/fundacao-olivar-de-castillejo.html

    ResponderExcluir
  4. Aqui vai o link da igreja: http://umanonaespanha.blogspot.com.es/2012/03/igreja-de-santo-antonio-dos-alemaes.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Juliana. Vou ler os posts. Comento lá.

      Excluir