domingo, junho 01, 2008

FRANCISCO FORRÓ Y FREVO

Chico César acaba de lançar seu novo CD.
Acima, dando nome a esse post, está o título do novo trabalho.
Abaixo, a capa:



Só composições próprias.
Apenas uma faixa é dividida com Pedro Osmar: A marcha da calcinha, que vem colada à velha e conhecida Marcha da cueca. Divertida e quase impublicável, a marchinha de carnaval dos anos 70 aparece aqui na voz de Claudionor Germano, o primeiro dos convidados para o trabalho.
E convidados há muitos.
De peso!
Como Dominguinhos, que empresta sua voz, sua sanfona e sua genialidade à música Deus me proteja, uma das melhores do CD. Forrozinho dos bons!
E a mesma Deus me proteja traz ainda uma surpresa final: Dona Etelvina, mãe de Chico, cantando Bendito. Convidada de honra!
Continuando o desfile dos convidados, surge Seu Jorge pontuando com sua voz grave a deliciosa Dentro. Uma das minhas preferidas.
E ainda tem Armandinho tocando guitarra na divertida Pelado, um protesto contra o preço dos abadás na folia carnavalesca:

Ainda protestando, vem Abaeté, abaiacu e namorado, que já na sua introdução traz a seguinte declaração:
“a gente precisa ficar sabendo de uma vez por todas que eles sempre vão apelar pra violência.”
E aí segue a música que conta a história do abaiacu que foi encontrado morto com o namorado...
Comer na mão, outro forró animado, tem também o seu momento de protesto, não político ou social, mas pessoal:
A referência ao pessoal aparece também em Feriado, que Chico já vinha cantando em shows há algum tempo. Nessa aparecem o ciúme, o machismo, o amor, o companheirismo, a carência, a insegurança, tudo num clima alegre, engraçado.
Em Zabé e Armando, Chico homenageia duas figuras importantes da música nordestina: Armandinho, filho de Osmar, aquele que com Dodô inventou o “pau elétrico” e Zabé da Loca, a “rainha do pife”, que viveu por mais de 30 anos numa loca de pedra no interior da Paraíba e tira de sua antiga flauta de pífano sons que já encantaram brasileiros e estrangeiros.

Forrós e frevos são ritmos já bem familiares para nossos ouvidos brasileiros. Assim, a surpresa maior fica por conta das letras sempre bem cuidadas de Chico.
Em Ociosa ele nos brinda com um quase anagrama – coisa e ociosa - e com uma excepcional poética existencial:
Em Dentro, joga com as palavras, como só ele sabe fazer:
Em Deus me proteja, mais um belo jogo de palavras:

Chico mostra também que está antenado com a literatura e o pensamento mundial. Em outros tempos, Mallarmé e Nietzsche visitaram suas letras. Hoje, Chico traz de volta Baudelaire e o espanhol António Machado.
Em Girassol está o “jardim das flores do mal” do poeta francês.
E em Deus me proteja, Chico e Dominguinhos cantam: “caminho se conhece andando...“ , que nos remete imediatamente ao “caminante, no hay camino, se hace camino al andar” de Machado.
Está aí mais um belo trabalho desse Francisco.
É assim que o próprio Chico apresenta o seu fff:
“...y ele disse faça-se a festa. obedientes, talvez por excesso de zelo, fizemos várias. expulsos da terra natal, onde quase todos os frutos eram proibidos y manga com leite ofendia, ocupamos a terra alheia. aí mesmo foi que dançamos. aquilo mais parecia terra de ninguém de tantas gentes e danças diferentes. gente migrada sabe deus de onde. galega dando umbigada y japonês se garantindo num bate-coxa que só vendo pra crer. expulsos do paraíso (que não é lugar de camelô), fomos nos espalhando de jabaquara a tucuruvi, de barra funda a itaquera. houve imigrantes que foram parar no sumaré y vieram comandar arrasta-pé y bater de bumbo pela vila madalena. sem falar naqueles aparecidos na margem esquerda do sena, em paris, nas ramblas de barcelona ou sob os céus em chamas de nova york. ai de ti, copacabana. ai de vós, superquadras, lagoa da joaquina, ópera de arame. brotados do chão, como mata-pasto y berduégua depois da primeira chuva. dos bueiros do metrô, das rasas y desmedidas covas, dos quartinhos de empregada, das entradas de serviço. de zeladores de prédio acostumados à multidisciplinaridade de pilotar interfone y dar uma mãozinha com a feira da madame, ao mesmo tempo, não foi difícil a evolução para djs y mcs. com os filhos mandando ver nas misturas de hip hop com xaxado y na mixagem dos pretendidos achados parentescos nas matérias primas do rap y do repente. não sei se ele vê com bons olhos (logo ele, que vê tudo) esse negócio de garoto judeu tirando chinfra com boné de maloqueiro y favelado sampleando o ravila naga pra enquadrar na moral anjos y marmanjos da guarda. mas quem sou eu pra saber? quando fez a luz y soprou vida em suas criaturas, inclusive no homem a sua imagem y semelhança, contemplou sua obra y ficou satisfeito com o que viu, deixou uma brecha para buscarmos nossa própria satisfação. felicidade até. joelho não foi feito só pra genuflexão. bem usado nuns passos de frevo tem seu valor. tudo bem que tem gente querendo endoidar o calendário: se quarenta dia depois de cada carnaval fora de época tiver uma semana santa, com crucificação y tudo, aí a casa cai geral. não tem joelho que agüente y a maioria não passa nem pelo purgatório. só sei que, seja boa ou ruim a safra, para muitos a festança junina também é sagrada (ops!). ...haja pois forró y frevo.”
(francisco, sou eu)
Nem preciso dizer que comprei meu exemplar do fff tão logo apareceu na primeira loja de São Paulo - a Livraria Cultura. E mais que depressa fui pedir meu autógrafo. Foi o primeiro que Chico deu. E ele registrou isso:Outra tietagem foi colocar na net minha primeira experiência como webmaster: FFF, uma página simples e tosca, onde se podem ouvir 3 músicas desse CD.
Pra conhecer um pouco mais do CD há informações no novo site:

francisco forró y frevo

E pra saber mais sobre Zabé da Loca e Armandinho e o seu trio elétrico, que Chico homenageia em suas músicas, algumas matérias que encontrei na net:

A capa do CD, as texturas usadas nos banners desse post e na página da net que fiz, são desenhos de Adams Carvalho.

Divirtam-se!

6 comentários:

  1. ei coisa boa! tá tão lindo esse disco! será um sucesso, claro!
    e vc, carmem..
    parabéns pela matéria, muito boa!
    beijo.
    fran

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  2. Carmem, adorei!
    Estou louca para ouvir o cd. Ainda não comprei, acredita? Mas já corri lá no site para ouvir as músicas disponíveis e gostei muito de todas!
    Beijos

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  3. Ler foi simplesmente um deleite arretado, lembrar de Pedro Osmar me fez ir até Jaguaribe onde morei anos e anos da minha vida, sem palavras para Zabé, uma figura ímpar.
    Beijos da Paraíba!

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  4. Chico Cesar maravilhoso como sempre!
    Grande criatividade!!

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  5. Meu sonho é ouvir esses frevos de Chico nas ondas das rádios, na boca do povo, nas carrocinhas dos piratas, nas lojas de Cds, nos palcos do meu Recife.

    Viva Chico
    Viva o Frevo

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  6. ¨ A Marcha da Calcinha ¨ parece que essa música foi feita pro Beco da Faculdade de Direito, o mesmo beco do Anjo Azul, que Livardo Alves frequentou muito, eu piro quando escuto ¨no beco do terceiro mundo ...¨

    para não falar em Pedro Osmar e sua Jaguaribe Carne mais contemporâneo que ¨A Marcha da Cueca.

    Estou apaixonada pelo fff, escuto todo o tempo em que estou em casa e com certeza tiro também minha calcinha com enorme prazer para todos que fazem essa maravilha de CD.

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