terça-feira, setembro 26, 2006

Torquato Neto, o Anjo Torto

Cogito
q
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
q
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
q
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
q
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
(Torquato Neto)

Essa homenagem ao Anjo Torto deve ser creditada a Chico César, autor da escultura que abre essa "conversa".

A pequena estátua foi feita usando tampas metálicas de copinhos de água mineral. Enquanto participava ativamente da mesa de debates Profissão músico: individualismo ou cooperativismo, Chico confeccionava a escultura.

No final do debate, pedi o "troféu". Ganhei.

Já veio com nome: Torquato Neto.


Quis conhecer um pouco mais Torquato. Encontrei muita informação. Gostei e reparto com outros curiosos as que mais me impressionaram:

www.torquatoneto.com.br

http://www.revista.agulha.nom.br/castel19.html

Lembrei-me também que Chico fazia alguma referência a Torquato em uma de suas músicas. Ei-la:

Nato
(Chico César e Tata Fernandes)

um poeta nato
filho da ralé
um torquato neto
parte da turquia
para qualquer parte
parte o coração
e faz dos estilhaços arte
e faz das fibras de aço som
pois é
é de certa forma
o que faço
um punk inexato
rato de porão
uma inezita barroso
cantando luar do sertão
certamente é
a fé o felátio
o mel o melaço
o cangaço e o "om"
pois é
é de certa forma
o que faço
o ser tão vai vir amar
amar vai revirar o ser tao

domingo, setembro 24, 2006

Kléber surpreendendo o público

Não bastou o novo visual de cabelos cortados com que Kléber Albuquerque surpeendeu seus fãs no Bem Brasil...
Kléber continua nos surpreendendo com novas composições e com novas leituras pras suas antigas músicas.
Foi assim no Crowne Plaza, em São Paulo, na última quinta-feira.
Cantou Uns dez amantes, do CD Para inveja dos tristes, lançado em 2000.
E nos emocionou com Os dígitos, música do CD 17.777.700, lançado em em 1997. Muitos de nós, seus fãs de carteirinha, ainda não havíamos visto Kléber cantando essa música ao vivo.
Ponho a letra, lindíssima:


os dígitos vermelhos do rádio relógio
ainda marcam a hora exata em que você saiu da minha vida
a chuva fria, o automóvel, o olhar de falsa loura
o adeus como um bombom de goma arábica na boca
ter de sair assim do seu caminho
ter de agora virar "amiguinho"
você não sabe, eu estou tão sozinho
os olhos vermelhos de assistir tv
na madrugada em que você saiu da minha vida
o vídeo, o telefone, o fax, o diempax, a pizza gelada
a janela escancarada respingando céu na roupa
olhando asfalto como se fosse praia
conversando com as samambaias
(elas entendem os de minha laia!)
tudo ficou tão quieto
os gatos do vizinho, as goteiras do teto
tudo ficou tão chato que eu já nem sei
tudo ficou tão chato
banho de porta aberta, deitar na cama de sapatos
tudo ficou tão quieto, tudo ficou tão quieto
tudo ficou tão chato
o mundo agora está tão absurdo
desabafei com o criado-mudo
(ele concorda comigo em quase tudo...)
ter de sair assim do seu caminho...

E tomo emprestado da Drika Bourquim o clipe da interpretação iluminada:

Das novas, me lembro de uma que fala de futebol, de outra, tipo música caipira chamada Diga adonde, feita para uma obra teatral, e da bela parceria com Élio Camalle, Dia de estrelas, gravada parcialmente por Ana Maria:



Bom, quem quiser ver tudo isso e muito mais, ainda dá tempo. Kléber faz sua última apresentação dessa temporada no Crowne Plaza na quinta-feira 28 de setembro.

terça-feira, setembro 19, 2006

Aniversário

Aqui em casa, aniversário funciona assim: eu sempre estou em casa nesse dia e sempre espero os amigos. Não convido ninguém... quem quiser e puder, que venha.
Eu começo a curtir bem antes. Penso num cardápio, preparo a casa, a roupa que vou vestir e uma lembrancinha pra cada pessoa que aparecer por aqui.
Dessa vez, duas semanas antes as lembrancinhas já estavam prontas. Aproveitei o boom do retorno de Herbie - o fusca - e usei a imagem dele na lembrancinha. Eram uns copinhos desmontáveis, desses que as crianças usam - ou usavam - pra tomar água na escola. Ficaram lindinhos! O motivo da escolha dessa imagem fica mais que claro... Eu comemorava 53 anos de idade!
Numa sacolinha de papel, coloquei um copinho para cada pessoa e mais... um CD - usado - do meu acervo. A idéia era me desfazer de coisas que eu uso pouco. Cada CD ia envolto em uma folha com a letra da música "De uns tempos pra cá", de Chico César.
Sobrou espaço... coloquei ainda um mini shampoo, resultado das coletas que fiz nos últimos tempos, nos hotéis por onde andei.
O cardápio: cuscuz marroquino. De sobremesa, dedinhos de noiva - um docinho sírio.
Na quinta-feira, começaram a chegar as visitas: Claudio, de Curitiba (mas que vinha chegando de Salvador...). Lu e Léa, de Cuiabá. Chegaram praticamente juntos, no final da tarde.
À noite, chegou Ana. Fomos em comitiva à rodoviária, esperá-la. Fomos jantar numa cantina. No caminho, peguei a roda dianteira do carro num buracão. Na saída do restaurante, o pneu estava arriado. Trocamos, ou melhor, ajudamos o Claudio a trocar...
E com essas e mais aquelas, nos primeiros minutos do dia 15 estávamos passando em frente ao MASP, na Av. Paulista.
No dia seguinte Ana e eu trabalhamos desde cedo preparando tudo: a comida e a casa.
E o pessoal foi chegando. Gente de diferentes tribos: família, amigos antigos, amigos novos.Teve até massagista. Léa, depois de beber algumas doses de uísque, começou a fazer massagem no pessoal.


Da família, estavam meu pai; Selma, minha irmã e Marina, minha sobrinha:


Olintho foi o último a chegar: veio depois do teatro, passava das duas quando chegou aqui. O porteiro o anunciou e resolvemos pregar uma peça nele: ficamos todos em silêncio, com as luzes apagadas e a porta entreaberta. Só escutamos sua voz: "Tem uma cena armada..." E caímos na risada. Ele disse que incialmente levou um susto, mas depois sacou...
Tínhamos pensado em usar nossas djalabas marroquinas, pra combinar com o cardápio. Foi impossível. Fazia um calor saárico!


Pensamos em fazer ao menos uma performance com as djalabas ne hora da sobremesa, mas acabamos nos esquecendo.
Três e meia da madrugada estávamos tirando as coisas da sala pra poder armar o circo dos colchões para os hóspedes. Lu foi lavando parte da louça à medida que íamos tirando.
No dia seguinte, Claudio partiu pra Curitiba logo que nos levantamos, por volta das 11 da manhã. Lu, que tinha bebido muito vinho na noite anterior, ficou de ressaca, passando mal. Léa terminou de lavar a louça.
Arrumamos tudo e nos sentamos para almoçar: reedição do jantar da véspera.
As fotos de tudo isso podem ser vistas e revistas. Estão aí, é só clicar:
53 anos

(Atualizado em 12/01/2013)

segunda-feira, setembro 11, 2006

Quem te viu, quem te vê

Quarenta anos depois, o verso de Chico Buarque que dá nome a essa postagem ainda é atual. Essa dito quase popular que acompanhou tantas fases da nossa vida de brasileiros, ajusta-se perfeitamente ao que quero comentar aqui: o programa Uma vez, uma canção que foi ao ar na madrugada do último sábado.
Quem te viu, quem te vê... Quem, como eu, viu a gravação do dito programa, não pode ficar calado ao ver no que se transformou ao ser transposto para a telinha mais de 4 meses depois. Quem te viu, quem te vê...
E o que eu vi, relatei na época. Está aí:

Editado, cortado, o programa que poucos puderam ver na TV não teve metade da energia que rolou durante a gravação naquele 18 de maio de 2006. Quem te viu, quem te vê...
E tudo isso aconteceu na TV Cultura. Ah, TV Cultura! Quem te viu, quem te vê...
Na grade de programação, sequer constava o nome do programa.
Interessada, escrevi para lá no início da semana. A resposta veio rápida, logo no dia seguinte:
Prezada Carmem,
Acusamos o recebimento de seu e-mail e agradecemos sua participação em nossa programação.
Informamos que o programa "Uma Vez, Uma Canção", com Chico César, irá realmente ao ar na madrugada de sábado para domingo, às 00:50 hrs.
Para consultar nossa programação você deve sempre acessar o site:
Atenciosamente,
Serviço de Atendimento ao Telespectador
TV Cultura São Paulo

Obedeci, voltei a consultar o site por várias vezes. O programa não aparecia. Para o horário de 00h50 desse dia estava programado o Ensaio. A mesma informação aparecia na programação da TV a cabo no sábado.
À meia-noite sintonizei minha telinha na Cultura. Filme.
Intervalos longos. Quem te viu, quem te vê...
Nenhuma chamada para o programa que eu esperava.
Meia-noite e quarenta: programa Zoom.
Mais intervalos sem nenhuma referência ao programa.
Uma e quarenta e cinco, finalmente, Uma vez, uma canção. Estávamos lá, Carlos Rennó, Chico César e a pequena platéia que acompanhou a gravação.
Muito do que vi e ouvi no estúdio não sobreviveu aos cortes do editor. Quem te viu, quem te vê...
Foi assim...
Achei pouco caso da TV Cultura passar o programa tão tarde, atrasado... Será que não querem que o programa seja visto?
Lembrei-me que na hora o diretor reclamou que havia pouco público... Pudera! Quem vai se interessar em participar de um programa bissexto, que vai ao ar num horário esdrúxulo e que não tem nenhuma promoção da emissora?
Ah, a política televisiva... tão misteriosa como tantas outras políticas.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Amigos de longe


Aconteceu naquela memorável noite em Buenos Aires, quando tive a honra de emprestar uma palheta a Chico César...
Pois bem, na mesa ao lado da nossa havia um casal que assistia ao show, encantado. Ela acompanhava todas as músicas alucinada e, a cada intervalo, entoava as primeiras palavras de Respeitem... Ele curtia cada momento do show.
Foi para atendê-la que Chico cantou Respeitem meus cabelos, brancos e emendou Mulher eu sei.
Depois daqueles minutos de fama proporcionados pelo empréstimo da palheta e pelas revelações de Chico sobre nossa participação em sua carreira, os olhos de nossos vizinhos se voltaram para nós curiosos.
Terminado o show, nos pediram que lhes enviássemos algumas das fotos que havíamos feito, já que eles não tinham conseguido fotografar.
Assim começou nossa amizade com Guillermo y Letícia. Ele, comerciante de papéis em Buenos Aires. Ela, florista com endereço comercial em Paris.
Já no Brasil, escolhemos algumas fotos e lhes enviamos por e-mail.
Exatamente 26 minutos depois, Guillermo agradecia o envio.
E duas horas mais tarde, Letícia escrevia agradecendo e contando como conheceu Chico: viu um show dele em Barcelona no ano passado e ficou encantada. Comprou o CD Respeitem... e o apresentou a Guillermo, que também gostou muito. Mais tarde ele nos contava que ouviam o CD diariamente e ainda o difundiam entre os amigos!
E-mail vai e-mail vem, soubemos que estavam procurando o CD Aos vivos. Tínhamos exemplares extras de Aos vivos, Cuscuz Clã e Beleza Mano. Enviamos por correio. Queriam nos pagar os CDs... Combinamos que o pagamento seria adiado para uma próxima vez que fôssemos a Buenos Aires: sairíamos de copas por conta deles. Negócio fechado!
Quando os CDs chegaram, oito dias depois de postados, Guillermo nos enviou um e-mail acusando o recebimento. Era uma sexta-feira. Dizia que nessa noite, diante de duas taças de vinho, escutariam al maestro. Comentava ainda que Chico talvez nunca viesse a saber das histórias e voltas que seus CDs haviam passado.
Acho que um dia ele saberá, sim!
Na segunda-feira seguinte, chega um e-mail de Letícia:

CHICAS,
IMAGINARON BIEN EL VIERNES LO ESCUCHAMOS Y TOMAMOS VINO,
A MI PARTICULARMENTE ME ALUCINA ESTE MUSICO, RESULTA QUE REUNE UNA HUMILDAD, UN RECONOCIMIENTO DE RAICES MAS SU INTERPRETACION QUE ME RESULTA TAN TALENTOSA, ME SORPRENDE...
NOS ENCANTO ESTAMOS SUPER AGRADECIDOS, AMAMOS BRASIL Y SU GENTE ASI QUE ESTAMOS MUY CONTENTOS DE PODER ENTABLAR UNA AMISTAD NOS VEMOS GRACIAS
LETICIA

Guillermo nos contou que estão ouvindo os CDs e mostrando aos amigos. E nos prometeu um recuerdo. Disse que nos mandaria algo de lá, por correio.
E mandou!
Na última segunda-feira, chegamos em casa e tivemos a grata surpresa de receber duas lindas canetas com nossos nomes gravados.
Agora estamos de sebo em sebo, em busca do CD Mama Mundi, para enviar a nossos amigos porteños e assim completar a discografia de Chico em seu acervo.

***
Achamos o CD Mama Mundi num sebo do Rio Grande do Sul - bendita internet! - e enviamos ao casal.
Depois disso nos encontramos em Buenos Aires pra um passeio. A "dívida" foi paga!
E, de vez em quando, ainda trocamos um ou outro e-mail.
(Atualizado em 12/01/2013)