sexta-feira, maio 19, 2006

Pra cinema

Pra cinema
Quem me diz onde é
Que mora o amor
Se é branco-e-preto ou tem cor
Quando que vai passar

Se é sem fim o amor
Ou tem final feliz
E no princípio alguém diz
Pra sempre ou nunca mais

Numa sala escura vem a luz
Clareia o peito de quem vive tão
Sem jeito sem paixão
O clarão eleva o chão ao céu
E o sujeito assume seu papel
De herói ou de vilão

Vem amor, pra mim - eu quero, eu vejo
Um futuro pra nós dois, andróides nus
Bombardeando sobre Nova York
O pólen da proibida flor do amazonas
Flor de amar e rir

Vem, amor: dispara, pára o tempo
E o relógio da Inglaterra
Vem meu bem, o Big Ben congela
Sopra o fogo teu, a multidão espera
A salvação que vem do nosso amor

Nossa nave vai veloz
Tão bela caravela
Faz-se mansa, mas feroz

Nossa nave vai veloz
E nós dizendo adeus
Contando luas sol-a-sol

Só quem bebe o pó de estrelas

Pode ir onde entretê-las
E sumir leve no ar
E o amor onde ele esteja
É a luz de quem deseja
Ser amado e amar

Vem, meu amor
Pra que esse filme não termine
Não se finde - vem sonhar
Vem, meu amor
Me dá um beijo
Que o letreiro
Faz a gente acordar


(Chico César)




Uma vez, uma canção

Esse é o título do programa gravado ontem, no estúdio E, da TV Cultura, em São Paulo.
Os participantes: Carlos Rennó - o entrevistador, Chico César - o entrevistado, alunos do cursinho da Poli, alunos do SENAC, eu e um enorme staff.
Minha aventura começou cedo. Era dia do rodízio da placa do meu carro. Fui de ônibus. Pra mim tudo era novo, foi a minha estréia em um estúdio de gravação.
Antes do início do programa, enquanto a equipe se preparava, Chico e Carlos já posicionados no palco, com seus microfones plugados, conversavam entre si. Os assuntos: futebol e música. Chico contou ao Carlos sobre uma letra que acabara de enviar a Zeca Baleiro, falando sobre os últimos acontecimentos. Era algo como: Pra entender o PCC é preciso primeiro entender o Brasil... Vamos esperar. Tomara que role!


O programa se dividia em quatro blocos, cada um enfocando uma música.:
  • Béradêro
  • Mama África
  • À primeira vista
  • Pra cinema
Em cada bloco Carlos e Chico conversavam sobre as circunstâncias da composição da música em foco. Em seguida alguém da platéia fazia uma pergunta sobre a música. E o bloco era encerrado com Chico cantando.
Foi interessante ouvir histórias conhecidas e desconhecidas sobre as músicas. Conto alguns pedaços... Outros deixo como surpresa para o dia em que o programa invada as telinhas das nossas casas.
Falando sobre Béradêro, Chico nos contou que a primeira estrofe foi composta muito antes das outras, durante sua passagem por Barra Mansa, a caminho de São Paulo, no início de 1985.

os olhos tristes da fita
rodando no gravador
uma moça cosendo roupa
com a linha do equador
e a voz da santa dizendo
o que é que eu tô fazendo
cá em cima desse andor

Sabem quem é a musa inspiradora disso? Ninguém mais que Elis Regina. É ela a moça cosendo roupa com a linha do Equador. E é também ela a santa que se pergunta o que é que eu tô fazendo cá em cima desse andor?

À primeira vista foi iniciada num ônibus. Chico voltava para sua casa - uma edícula em Santo Amaro - foi anotando idéias em sua agenda:

quando bebi demais vomitei
quando fiz 69 gozei
quando morreu Jânio Quadros gostei
E outras... Quase na hora de descer do ônibus, escreveu: quando vi você me apaixonei. E percebeu que ali estava a letra de uma canção de amor. Daí até a forma final que a letra tomou, foi um pulo. Selecionou alguns versos, modificou outros, criou mais alguns. Assim nasceu a primeira canção de amor de Chico. Ouçam e vejam como ele se sentiu nesse momento:

O amara, dzaia, zoi, ei, dzaia, dzaia, ain, in, in, ingá, num, man an veio depois. Quando tudo já estava pronto, numa noite solitária, no quartinho da edícula onde morava, Chico criou esse refrão.
Minha participação foi no momento das perguntas no bloco dedicado a Mama África. Perguntei se, ao compor a música, ele pressentiu que ela poderia alcançar o sucesso que alcançou. Antes de responder ele fez um comentário dizendo a todos que eu sabia muito da obra dele e, em seguida, respondeu dizendo que nunca pensa que uma música possa fazer sucesso, mas que ficou muito feliz com a projeção que essa música lhe deu.
A melodia de Pra cinema foi composta em 1992, e só em 2005 ganhou letra e foi gravada.
Pra quem não se lembra da música, o próximo post traz a letra e uma parte da interpretação de Chico.
Outra coisa legal do programa foi o cenário. Ao fundo eram projetadas algumas fotos. E qual não foi a minha surpresa ao ver algumas fotos de Ana aparecendo ali. Confiram:


E mais não conto...
Vamos ficar de olho na TV Cultura esperando a apresentação do programa, que ninguém soube informar quando será.

quinta-feira, maio 11, 2006

Mais samba e menos lágrimas

Era 10 de maio. Dia do aniversário de Rubi, essa voz encantada que veio lá do centro oeste para acariciar nossos ouvidos de "tons tão sudestes".
O show era em Santo André. No saguão do Teatro Municipal, ao lado do Bar do Alemão.
Palco improvisado, pequeno. Rubi e seus músicos conseguiram se acomodar no espaço e o show foi mais uma vez maravilhoso.
Como já havíamos visto no Crowne Plaza no início de abril, nosso menino cantou como nunca, uma música atrás da outra, sem intervalos para aplausos. Guardamos as palmas para o final.
Além das músicas do CD Infinito portátil, ouvimos ainda Blues da piedade, do Cazuza, Por tudo o que for, do Lobão, Primavera, do Wisnik.
E ainda o antigo samba Tristeza, de Haroldo Lobo e Niltinho, mesclado com versos encantados de Sérgio Pererê, em Mais samba e menos lágrimas.
Ouçam:

Fiquem de olho!
Um passarinho me contou que Rubi estará em temporada no Crowne Plaza em julho.

Termino com um momento de mea culpa.

No relato que fiz do show anterior escrevi:
  • Ceumar participou também. Vestida de branco, entrou no palco com um ramo de flores e entregou ao Rubi. Juntos cantaram Tristeza e uma versão que eu não conhecia daquela música Tiro ao Álvaro, do Adoniran. A melodia era a mesma mas as palavras eram bem outras: falavam de amor.
Nada disso! Dessa vez Ceumar não participou, mas a música Tristeza vinha acompanhada de trechos da bela Mais samba e menos lágrimas, do Pererê.
Pra me penitenciar, coloco aqui a letra dessa canção.

A solidão
É jarra que vaza vazia
A um segredo revelado em cada canto
E todo Santo Sofre de esquizofrenia
De tanto lançar sonhos no ar
Acho que mereço um amor
Com mais samba e menos lágrimas
De tanto jogar flores no mar
Acho que mereço um amor
Com as bênçãos de Iemanjá
Se o amor é bom
Por que só me faz chorar?
Só pode alguma coisa
Estar fora do lugar
Se existe alguém
Se existe um luar
Se existe um trem do amor
Que possa me levar
Algo de bom
Quero esperar
Mais todo tempo do mundo
Eu não tenho pra sonhar
De tanto jogar flores no mar
Acho que mereço um amor
Com as bênçãos de Iemanjá

Será que Pererê vai me perdoar?