sexta-feira, maio 22, 2009

Elogiado pelo Ministro da Cultura

Bem, depois do belo texto de Pedro Osmar, postado há alguns dias, antes da posse de Chico César na presidência da FUNJOPE, não  poderia deixar de postar esta nota fresquinha, do Paraíba News :

"O ministro da Cultura, Juca Ferreira, enviou nota à Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), elogiando a escolha de Chico César para presidir o órgão gestor de cultura da capital. Na opinião do representante do Governo Federal, a iniciativa é um sinal de compromisso da administração pública municipal com a política cultural brasileira. No documento, o ministro também se coloca à disposição para eventuais colaborações.

Para o ministro Juca Ferreira, a escolha do compositor Chico César para ficar à frente da Funjope mostra que a Prefeitura de João Pessoa (PMJP) “vai além dos poderes constituídos e chega aos poderes legitimados”, ressalta a nota. “Digo isso não só pelo valor da obra e talento de Chico César, mas por seu perfil extremamente agregador e atento aos desafios que hoje se colocam frente ao desenvolvimento cultural do País”, destaca o texto.

As qualidades do atual diretor executivo da Funjope são vistas pelo ministro como estratégicas para o bom desempenho da gestão. “Contribuindo para um trabalho que venha a legitimar junto ao setor cultural de João Pessoa, em sintonia com os avanços já obtidos pela política cultural brasileira”, frisa o Juca Ferreira em nota. No final das congratulações, o ministro coloca-se à disposição para apoio às iniciativas que engrandeçam o setor. “O Ministério da Cultura está à disposição pra apoiar e colaborar no que for necessário, na certeza de que estamos juntos pela cultura da Paraíba, pela cultura nordestina, pela cultura brasileira”, enfatiza."

domingo, maio 10, 2009

PASSARINHO DO MATO!

Soube ontem:
"O cantor e compositor paraibano Chico Cesar é o novo presidente da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope). Ele aceitou o convite feito pelo prefeito Ricardo Coutinho na noite desta quinta-feira (07). A posse no cargo está prevista para segunda-feira (11), as 15 horas, durante solenidade no Paço Municipal."
http://www.paraiba.com.br/noticia.shtml?94337

Mais tarde soube mais: Pedro Osmar será seu assessor.

E hoje recebo de Pedro esse texto:

PASSARINHO DO MATO: Chico César na Funjope!


(Pedro Osmar). 10.05.2009. SP.



Qual o significado de um artista como Chico César à frente da instituição municipal de cultura mais importante da cidade, considerando sua história de luta, que é anterior à sua carreira profissional de artista popular mundialmente conhecido? Será, certamente, um delicioso retorno às suas origens! Com a diferença que ele terá em suas mãos a direção da Funjope e todo o seu complexo de atividades e compromissos educativos com a cidade de João Pessoa (não sendo portanto, apenas o menino de recados de um mero projeto divulgador de festas para fazer a cidade cantar, dançar e se divertir), cidade que Chico conhece tão bem (becos, vielas, favelas, comunidades mais distantes), pois nela morou e trabalhou em grande parte de sua vida estudantil, poética, musical e jornalística. Sim, Chico César é um jornalista formado pela UFPB, na mesma turma de Walter Santos, Silvio Osias e Carlos César, tendo como seu maior farol intelectual figuras como Raimundo Nonato Batista e Jomard Muniz de Brito, ícones de toda uma geração! Este será o significado da presença dele a partir de agora!

Hoje Chico volta como um professor que dá suas aulas a cada show/recital/entrevista e palestra que realiza pelo país e pelo mundo. Um profissional que aprendeu com a vida (e vida aqui, no sentido de pensar e repensar e agir e interagir produtivamente aos conceitos, novos conceitos que defende como massa crítica de sua sobrevivência intelectual e política) em que os “signos” estão sempre em rotação, que as relações de poder estão sempre em mutação, quando o poder é exercido democraticamente por quem quer que seja, por ele, por seus parceiros de trabalho, pelo prefeito e toda a complexidade política que faz João Pessoa ser a cidade que “é”, no projeto político do nordeste. Nos perguntamos: João Pessoa poderia ser mais do que é? Poderia dar melhores exemplos e condições de vida aos seus moradores e populações? A certeza é que um dia a cidade, a partir de administrações mais democráticas e equilibradas, terá as condições objetivas para conquistar esse avanço, pois como diria David Cooper: “Não existe esperança. Existe uma luta, e esta é a nossa esperança”.

A chegada de um cara como Chico César à Funjope se reveste de uma importância singular, dada a pluralidade com que acentua e confirma a competência do seu discurso em tudo que faz: sua música, seus poemas, e agora, certamente, uma possível e provável administração democrática e socialista que poderá imprimir à frente da Funjope. O ser plural que ele é (e singular, em seu competente projeto criativo no contexto da música paraibana, nordestina e brasileira), terá condições de dialogar com as “esferas” (leia-se diferenças e contradições) da complexidade da política paraibana, sempre às voltas com as naturais polêmicas do exercício do poder que nos governa, um projeto de poder estadual ainda bem atrasado e burro, mas que se, futuramente, manipulado de forma coerente, inteligente e progressista (um dia será revolucionária), poderá gerar cada vez mais condições para que a democracia popular se instale de vez na cidade de João Pessoa, bem como em todo o estado. Ou seja, cenas de um cotidiano poderoso (ainda não popular) que terá na ação administrativa da equipe da Funjope (com Chico César à frente!), uma outra postura e uma série de novos entendimentos. Este será o nosso desafio!

Que tenhamos vida e fôlego e paciência para ajudar em todo o processo, até porque, depois de Lau Siqueira, ninguém melhor do que Chico César para entender essas necessidades e facilitar um trâmite próprio dessa máquina municipal de poder em que agora ele está inserido. E estamos todos com ele, disso ele não tenha dúvida. Até porque muito do que ele viveu na sua militância de políticas alternativas de cultura a partir dos anos 80, tem a ver com essas “irmandades comunitárias”, tem a ver com as ações guerrilheiras de cultura criadas e mantidas pelos projetos que ele participou: Musiclube, Fala Bairros e Movimento dos Escritores Independentes, que praticamente atuou e mexeu decisivamente (durante pelo menos uns dez anos), com a cena da música, da poesia e da cultura na cidade de João Pessoa.

Chico estava de dentro, contribuindo, influindo e interferindo de forma crítica e criativa com suas idéias, que sempre fundiram “chão rachado, aboio, jovem guarda, bossa nova e tropicalismo com as mais novas e avançadas tecnologias da informação das vanguardas da Semana de 22” (vanguarda européia e modernismo brasileiro), que fomos aprendendo nas relações de poder da luta política de cultura da cidade de João Pessoa daquele período. Certamente que o grupo Jaguaribe Carne tem muito a ver com isso. Não soará estranho agora se a Funjope passar a defender causas de “intercambio”, formação e preparo cultural entre os artistas e as populações nos bairros, assim como nas cidades paraibanas e capitais nordestinas, como base de sua política de trabalho, pois esse é o nosso maior aprendizado nas ações de guerrilha cultural que realizamos coletivamente através do Musiclube, do Fala Bairros e do Movimento dos Escritores Independentes. Essa noção Chico tem, e ela será muito valiosa no momento em que a cultura da cidade procurar um “chão” por onde se sustentar, caminhar e se equilibrar.

Enfim, são expectativas. Bom será a conquista de tudo isso pela coletividade pessoense, tendo claro que muita coisa terá de ser revista e ampliada, seja do lado do poder, seja do lado do povo organizado, para que a cultura na cidade tenha melhores dias. Democracia é essa capacidade de estarmos abertos ao aprendizado que o rolo compressor da vida sempre nos coloca, por bem ou por mal. Esperamos que a vinda de Chico César possa nos ajudar a compreender melhor tudo isso.

Vamos à luta!

sábado, maio 02, 2009

Olê, mulher rendeira...

A propósito de um tópico na comunidade de Chico César no orkut, me pus a pesquisar sobre a música Mulher rendeira.
O tópico na verdade fazia referência à música Folía de príncipe, à qual Chico agregou uma versão da tal Mulher rendeira.
O encarte do CD Cuscuz Clã, onde está inserida a música, dá conta de duas músicas incidentais incluídas na canção:
*Mulher rendeira (Zé do Norte)
*Vozes da seca (Zé Dantas/Luiz Gonzaga)
Clica daqui, clica dali, descobri um montão de coisas.
  • Primeira descoberta: Alfredo Ricardo do Nascimento, nascido no início do século 20.
Alguém conhece?
E se eu disser que o nome artístico dele é Zé do Norte, melhora? Não?
Pois bem, Alfredo Ricardo, ou Zé do Norte, como queiram, é tido como o autor de Mulher rendeira, entre muitas outras bem conhecidas dos nossos ouvidos.
A música fez parte da trilha sonora do filme O cangaceiro (1953) e com isso ganhou o mundo, já que o filme foi exibido no Festival de Cannes daquele ano e foi considerado o melhor filme de aventura. E há quem diga que a música foi feita pelo próprio Lampião e que, por ocasião do filme, sofreu apenas uma adaptação do compositor Zé do Norte. Será?
Mais alguns cliques e cheguei ao site Acervos do Brasil. Lá pude ouvir uma gravação do próprio Zé do Norte, feita em 1969, num disco que leva o nome de Mulher rendeira .
A letra da canção cantada pelo Zé do Norte era essa:
*
Olê mulher rendeira
Olê mulher rendá
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar
*
Mulher de cangaceiro
Não tem medo de careta
Quando vê a coisa preta
Sai rolando pelo chão
*
Solta o dedo no gatilho
Bota fogo no sertão
Tenente perde a patente
Coronel perde o galão
*
O poderoso Google me mostrou outras versões dessa letra:
Cida Moreira (CD Na trilha do cinema, 1997), canta o refrão seguido dos versos:
*
Lampião desceu a serra
Deu um baile em Cajazeira
Botou as moças donzelas
Pra cantá muié rendera
*
As moças de Vila Bela
Não têm mais ocupação
Se que fica na janela
Namorando Lampião
*
Elba Ramalho (Cd Maxximum, 2005) usa toda a versão de Zé do Norte como refrão e acrescenta os seguintes versos:
*
Andei o sertão inteiro
Levando menino bom
Sou mulher de muita briga
Não há quem me diga não
*
Chorou por mim não fica
Soluçou vai no "borná"
*
Meu sangue corre nas veias
Coração sai do lugar
Os macacos da polícia
Mando bala pra matar
*
E mais algumas outras versões, dentre as inúmeras que encontrei pela net:
*
A pequena vai no bolso
E a maior vai no "emborná"
Se chorar por mim não fica
Só se eu não puder levar
*
O fuzil de Lampião
Tem cinco laços de fita
No lugar que ele habita
Num falta moça bonita
*
Saudade levo comigo,
Soluço vai no emborná.
Se você tá me querendo,
Vamo pra Igreja, vamo casá.
*
E depois de nóis casado,
Vou pra roça, vou prantá.
*
O texto Repercussão da rendeira, de Assis Ângelo, postado no blog da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço faz um belo inventário dos caminhos percorridos pela música.
  • Segunda descoberta: o site de Luiz Gonzaga com TODA a sua obra digitalizada!
Ali foi fácil localizar a música Vozes da seca, de 1953, com os versos:
*
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
*
E assim chego à versão que Chico César canta em Folía de príncipe:
*
Olê mulher rendeira
Olê mulher rendá
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar
*
Lampião desceu a serra (mano)
Deu um baile em Cajazeira
Ensinou a moça donzela
A dançar mulher rendeira
*
Lampião desceu a serra (brother)
Com sapato de algodão
O sapato pegou fogo
Lampião caiu no chão
*
Lampião tava dormindo
Acordou-se assustado
Atirou numa craúna pá pá pá
Pensando que era um soldado pá pá
*
As moças de Vila Bela (mano)
Não têm mais ocupação
Bota queijo e rapadura
No bornó de Lampião
*
Mas doutô uma esmola
Para a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha (mano)
Ou vicia o cidadão
*
E como fã sempre considera seu ídolo um gênio... Aqui estou eu, escrevendo sobre a genialidade de Chico César.
Quem quiser - ou puder - que me conteste!