segunda-feira, abril 21, 2014

Nos hotéis da vida


Desde que comecei a trabalhar, tenho viajado muito por aí, para participar de congressos, de bancas e coisas assim. Agora, que moro numa cidade e trabalho noutra, o ritmo das viagens profissionais ficou ainda mais intenso.
Nessas ocasiões, hospedo-me em cidades sem muito apelo turístico, em hotéis voltados para hospedar gente que trabalha e não que passeia.
É todo um mundo à parte dos hotéis voltados para o turismo, em que não se nota nem um pouco de empenho em fazer dos quartos lugares charmosos e aconchegantes. Tudo tende ao básico, das roupas de cama e banho aos móveis e amenities. O luxo é quando se consegue, nesses hotéis, um quarto limpo, com um bom chuveiro e colchão de boa qualidade.
Mas a grande diferença aparece mesmo quando se trata dos clientes desses hotéis. Para mim, que gosto de observar pessoas, a hora do café da manhã é especial, sobretudo nos primeiros minutos. Entre as 6 e as 8 horas da manhã aparecem os hóspedes regulares, que são sempre trabalhadores e, em geral, do sexo masculino.
Se o hotel é um pouco mais caro, são executivos, com roupas impecáveis. Se o hotel é mais simples, como aquele em que me hospedo toda semana, meus companheiros de café da manhã são caixeiros-viajantes, caminhoneiros, técnicos de manutenção, mestres de obra, capatazes, muitas vezes vestidos de roupas de trabalho.
Na tv da sala de café da manhã tem sempre um noticiário acontecendo ,e quando o apresentador fala de futebol, dá pra notar que os presentes se entusiasmam. Às vezes até mesmo se instala uma discussão entre todos os homens presentes. Eu assisto a tudo, muda.
Pouco antes das 8 horas saem todos, pegam seus carros e caminhões e vão desempenhar suas tarefas. O hotel fica então deserto até o início da noite, quando termina o turno de trabalho e eles voltam.
O mundo dos hotéis para trabalhadores é, basicamente, um mundo de homens. É aí que se pode notar com mais clareza que o universo do trabalho é ainda majoritariamente masculino, principalmente quando o serviço envolve viagens.

Deve ser por essas e outras razões que meus colegas de hospedagem sempre olham desconfiados para mim, quando chego para o café da manhã, pronta para mais um dia na sala de aula. 

Guest post: Texto e foto de Ana Oliveira, do Psiulândia.

9 comentários:

  1. Adorei o texto da über-visitante ;-) Sabe que isto não acontece só aí, não, né? Já passei alguns perrengues viajando pelo interior dos isteitis, sozinha. Olhares desconfiados e até algumas caretas. Que nada mais fazem do que reforçar minha vontade de ver mais mulheres nas estradas, a caminho de seus trabalhos.

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    1. Issaê! Bora ocupar os hotéis, working girls!

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  2. Muito bacana suas percepções colocadas aqui! Acho que a realidade desses hotéis dá pano pra teses e teses... e muita discussão interessante. O próprio universo masculino ali, escancarado, já é pra fazer pensar bem além. Gostei do pontapé inicial. :)

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    1. Lucia, eu teria mais coisas pra contar e comentar, mas achei que era o caso apenas de dar o pontapé inicial, como você disse. Quem sabe outr@s continuam o jogo? :-)

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  3. muito bom, Ana! e adorei a visita ilustre, viu? bora ocupar os hotéis messssssmo, working girls! :)

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    1. Obrigada, Mari! Infelizmente, a vida não é só feita de hotéis charmosos, né? ;-)

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    2. Aliás, Mari, bom mesmo é quando visitar hotéis charmosos é parte do nosso trabalho, né? ;-)

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  4. Imagino que, apesar dos olhares masculinos, o exercício de seu próprio olhar deva ser muito divertido.

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    1. É divertido, sim, Silvana. Eu gosto de observar pessoas...

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